A criação artística tem destes maravilho-sos e inexplicá-veis efeitos de perdurar além do próprio criador... Não que quem cria queira necessariamente perdurar além da sua própria existência... duvido... a não ser que a criação possa, de algum modo, possibilitar um porvir melhor... é a única pretensão, quanto a mim, admissível ao criador. A arte, por mais espontânea que seja, pressupõe a perenidade, quiça a intemporalidade... como se o criador fosse uma espécie de medium, cuja verdadeira arte é a de possibilitar a materialização de uma "realidade" espiritual.
E o que me leva a esta dissertação de algibeira? A sensação que me fica de cada vez que vejo uma banda veterana, como aconteceu com os ALPHAVILLE no Campo Pequeno, no passado dia 26.
O tempo só leva o que tem de levar; apetece-me comparar a vida a uma prova de estafetas. E o testemunho dos germânicos que apregoaram, ironicamente, "querer ser para sempre jovens" já foi passado a quem de direito. Com todo o mérito que lhes cabe. Eu daqui, dos anos dez do novo século, olho para trás, para a rebeldia musical dos oitenta, com toda a nostalgia e respeito que se impõem e penso: que bom que o tempo passa, porque só assim verdadeiramente se criam os alicerces da criação artística, enquanto perene e intemporal...
Larga a droga, Bruno. E vai-te deitar, que são horas.
1 comentário:
“Do you really want to live forever?”
A obra passa a ser do público a partir do momento em que o criador a dá. A obra passa a ser do público a partir do momento em que este a aceita. Quando é que a obra passa a ser obra? Dostoiévski em relação a “Os irmãos Karamázov” diz que: “Estou perfeitamente de acordo que é uma coisa inútil, mas, já que foi escrita, que fique.”
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