22 julho 2006

Baú de pequenas coisas - II

Parece que foi ontem, chavão fácil para início de mais um momento saudosista. Não, parece que nunca foi ou parece até que sempre foi. Melhor: parece que foi sem tempo. Intemporal. Um temporal que passou pela minha vida. Vendaval de emoções. Tempestade de criação. Uma vontade de mudar o mundo. Melhor, salvá-lo sei-lá-do-quê, enfim, de tudo de que carece ser salvo. Ou salvar-me a mim próprio?
Magia, agonia, insatisfação, altruísmo, egocentrismo, revolta e «passadas desritmadas, com pressa de chegar».
Mudam os tempos, mudam as vontades, mudamos nós, mas os sonhos, esses, tendem a perdurar. Por muito que mudemos de casa, de vida, de emprego ou até de rosto; de maneira de estar. Porque a de ser não se muda. Ou se é ou não se é; não se é assim ou assado, melhor ou pior. É-se e pronto. Ponto.
Na vida mudamos de estado. Deixamos de estar aqui ou ali, deixamos de estar assim ou assado. Com este ou aquele. Com esta ou aquela. Mas continuamos a ser… nós… sonhadores… e o sonho muda de face, mas não muda, de facto. Permanece o mesmo, iludido e desvanecido pelo tempo.
Há cerca de 13 anos estreava a minha primeira banda e estreava eu, como cantor, nesse exacto bar (esse que agora vê vedada a possibilidade de nos dar música ao vivo), de uma forma um tanto atabalhoada, mas deveras marcante, pelo frenesim, pelo calor humano, pela partilha, pela dádiva, pelo ímpeto de vencer, pelo medo de começar e o desespero de falhar.
Enfim, vinha dos meus 18 anos. Anos de ouro. De descobrir e de encobrir. De encontrar e voltar a esconder, de avanços audazes e de recuos intempestivos.
Parece que foi ontem… chavão fácil para encerrar mais um momento saudosista. Não, parece que nunca foi…