25 janeiro 2005

O verdadeiro karma humano

A lucidez tem a dupla função de nos deixar ver a verdadeira razão de ser das coisas e de nos fazer perceber que isso não vai mudar em nada o curso da nossa vida. Quantas vezes quisemos, nós, mortais, procurar formas de distorcer a acuidade da nossa visão da realidade? Quantas não procurámos – e achámos – o verdadeiro sentido da vida – o de que a vida não tem sentido nenhum, e nos sentimos tranquilos, relaxados, libertos e até felizes? Pois é, a lucidez permite-nos ver além daquilo que, efectivamente, queremos olhar.
A realidade distorcida permite-nos viver no país dos “ses”, no plano das hipóteses e das possibilidades. A lucidez aumenta em proporção com a maturidade. À medida que nos vamos afirmando na sociedade, a nossa lucidez aumenta até ao ponto do «afinal era assim?!?». Mas guardamos essa verdade para nós, e jamais a revelamos. Nem a nós próprios. Pois, o prémio do nosso esforço de anos de aprendizagem, de competição, de avanços e recuos na auto-confiança e na auto-estima, de conquistas e perdas, é esta lucidez progressiva, rumo à clarividência que, em última instância, nos ofusca a capacidade de ponderar, de tolerar, de ouvir, de perceber, de recomeçar, de pedir perdão e perdoar, em suma, de amar. A lucidez de mente esvazia-nos o coração e a alma. Querer ver mais do que sentir e intuir é buscar a cegueira. Mas, querendo ou não, ela constitui verdadeiro karma humano.
Soluções? Não sou lúcido o suficiente para as encontrar...tenho tempo de o ser...

19 janeiro 2005

O estado “preliminar” da mente

Imagem: "The virgin's dream", G. PoggiSexo, sexo, sexo. É isso mesmo. Uma palavra para designar múltiplas predispo-
sições em torno de um entendimento-chave – sexo. Expressão básica que seria entendida aqui e, quiçá, na China, sem acordos ortográficos ou recurso ao Esperanto.
O que é facto é que nem sempre percepcionamos, em rigor, o real sentido da expressão, na sua mais recôndita essência. Para que tal aconteça, é necessário atingir, psiquicamente, um estado equiparado ao físico, de modo a alcançar uma predisposição para o prazer desmedido, a raiar a eloquência. A evasão da razão. E, por simpatia, do tempo e do espaço. É isso mesmo. Definir sexo, falar de sexo, pressupõe um jogo mental preliminar. Alcançado esse patamar de estado semiconsciente, eis chegado o momento do acasalamento de ideias. Já que o canal está limpo.
Isto permite-nos uma exposição mais aproximada dos nossos reais desejos, funcionando, assim, como um antídoto para o recalcamento sexual, não raras vezes motivado pelo preconceito social. O preconceito banaliza o sexo, afastando-o da sua real essência.
Falar de sensações é sempre muito difícil. Explaná-las. Sobretudo quando, nesse exacto momento, elas não estão presentes.
Não se exige ao leitor que apenas debata o sexo, no momento em que o faz. Mas, antes, que relaxe, também, intelectualmente, permitindo o livre fluxo e refluxo das suas ideias e das dos outros. Tal como fazê-lo, falar de sexo é, também, uma partilha. Há, permanentemente, que se estar atento ao(s) parceiro(s) do discurso. Não se preocupando tanto com o desempenho mas, sobretudo, com a intensidade do prazer que se retira e se oferece ao diálogo.