19 setembro 2007

O que é nacional é bom (q.b.) …

Imagem: "O outro lado da ferida", Paulo Madeira
A vantagem, para mim, de falar de qualquer assunto específico reside no facto de eu não me considerar especialista (ainda que possa ser) de coisa alguma, logo, o grau de exigência que me é pedido é o de um cidadão comum, de Q.I. médio, como creio ser, digo eu…
Assim, a pena máxima que poderei apanhar será um puxão de orelhas com as devidas atenuantes. Tentarei, porém, escrever com responsabilidade… cívica.
Não sei o que me deu; também é certo que mais de três meses sem postar dá nisto!
Eis que me surge, vinda do nada, uma repentina vontade, quase diarreica, de postar sobre Escrita de Televisão. Podia ser por mera dor de cotovelo (já que é uma arte que deixarei para a próxima reencarnação), podia ser por não ter nada sobre que escrever, ou por simples pena da televisão que hoje temos, e sobretudo de nós, “dormitadores” de sofá. Vou optar pela última hipótese, que é a que melhor se coaduna com o que falarei a seguir... Já cheguei a falar de Informação, não foi? Ora agora vou falar de Entretenimento… à laia de Chico-Esperto…
Ora vejamos. Temos ou não temos melhores actores de ficção nacional que no passado? Temos ou não temos comprovadamente boas equipas de produção e de realização? Temos ou não temos novelas portuguesas permanentemente em horário nobre, ou seja, alcançando e mantendo bons níveis de audiência? Já lá vai o tempo em que representar em televisão se dizia ser demasiado teatral/pouco realista. Então não haveria de ser, pois se o teatro em Portugal tem, pelo menos, 5 séculos de existência, contra os 50 anos de televisão, dos quais apenas 25 de novelas em português (e com períodos de interregno)! Hoje, vemos, satisfeitos, boa parte dos actores portugueses com um realismo de representação que iguala, quando não suplanta, a melhor produção estrangeira. E com contratos de trabalho! Bem, sobretudo, com trabalho… esta é a parte boa (para eles) da questão.
A parte mais aborrecida (para nós): em Portugal mantém-se ainda o culto do não inédito, das adaptações de formatos comprados lá fora, sabe-se lá a que preço, guiões do tipo pronto-a-ver-
-sempre, quando cá dentro se verifica uma vaga, melhor, uma avalanche, dos melhores argumentistas, guionistas, criativos, que alguma vez tivemos!!! E para onde continuam a olhar os nossos directores de programas? Ainda para a galinha da vizinha, ora essa! Suponho que a seguir religiosamente dados de audiometria e a copiar milimetricamente formatos pagos a ouro! E porquê? Para não correr riscos… e os que arriscam escrever/suportar uma história de ficção original, (uma prática, é certo, cada vez mais corrente) a colarem-se aos lugares-comuns importados, sempre no intuito de liderar audiências… em termos práticos, vai tudo dar ao mesmo.
É triste, pois quando pensamos que é desta que é tudo 100 por cento nacional, vai-se a ver e… não é assim tanto! A praga primeiro tomou os concursos de assalto, depois seguiram-se os reality-shows e por fim as novelas. Bem, na verdade já não sei bem qual terá sido “tomado” primeiro…
Infelizmente, partilhamos ainda da cultura d'o que é nacional é bom, sim, mas para as elites. Mas já não nos podemos queixar de produções maioritariamente herméticas, eruditas e rebuscadas. Já se chamam nomes, já se chora baba-e-ranho, já se dão empurrões, já se parte loiça, já se explodem carros, já se dizem palavrões, já se colam corpos sem lençóis de entremeio e já se dão beijos de língua… tudo a fingir, em nome da profissão!
Mas enquanto, recorrentemente, se cegar a irmã gémea boa; enquanto a menina pobre sonhar perpetuamente em ser rica ou famosa; enquanto repetidamente se descobrir que, afinal, o filho não é do marido pobre mas antes do amante rico e enquanto durarem as madrastas más a infernizarem a vida às enteadas boas que afinal tinham cancro, e os maus morrerem no fim ou ficarem loucos e os bons casarem e tiverem casais de filhos; enquanto se insistir nas dicotomias fáceis, pueris e castradoras da nossa capacidade intelectual… enquanto isso acontecer (se não sempre), mais vale ler um livro!
Não sou nacionalista, nem pouco mais ou menos, logo eu, verdadeira encruzilhada de origens! Aliás, adoro uma boa série ou filme made lá fora, legendadinhos, como convém! … Agora, ou é ou não é! Acredito que é possível inventar, criar algo genuinamente nosso e colocá-lo em horário nobre... sem receios! Cooperar em vez de competir… estão a ver? Quem não acreditar, que atire a primeira pedra….