02 abril 2008

Juventude (à) rasca

Imagem: "Estados de alma", Mark Freedom, d.r.
Quando começamos a perceber que duas em cada três pessoas que nos rodeiam no dia-a-dia são mais novas do que nós, há duas coisas que não estão bem: uma é o facto de estarmos a ficar galopantemente mais velhos (contribuindo assim para a triste estatística europeia!), a outra é o facto de começarmos com as célebres paranóias da idade.
É um dado consumado: estou a chegar ao limite etário convencionado para a juventude, momento a partir do qual, além de experimentarmos o “apelo da paternidade”, nos começamos a sentir desconfortáveis em determinados locais e ridículos perante certas figuras; em que um “mero factor preferencial” se começa a sobrepor a pargas de certificados no acesso a um emprego, para não falar em descontos ou programas de financiamento que nos passam a estar vedados; altura em que nos começam a tratar por “você”, “senhor” ou até mesmo “doutor”, e em que o nosso organismo e o espelho já começam a evidenciar alterações que não merecem (ainda) ser aqui afloradas…
Este estádio de “jovem cessante” ou de “pré-adulto” traz-nos uma espécie de segunda confusão existencial: avançamos, de cabeça, rumo à fase adulta, de olhos cerrados para não sentir o impacto, ou resistimos, qual “jovem” do Restelo, usando todos os trunfos e argumentos para poder continuar do lado “fresco” da vida?
Pois é, soube que dia 28 de Março foi Dia Nacional da Juventude e lembrei-me de mim... E elenquei mentalmente tudo o que ainda quero fazer neste final-de-etapa de vida. Elenquei, de seguida, o fardo crescente de responsabilidades que me trouxe a fase final deste estádio oficialmente designado por juventude… Percebo, depois, que por muito que física e gradualmente o espelho não deixe margem para dúvidas, resolvi não fechar os olhos, e avançar serenamente, sem medos, rumo à fase “grisalha” da vida; aquela em que deixamos de ser “pá” ou “meu” para entrar irreversivelmente na fase sénior do “olá como está”; em que os feios passam a charmosos e os bonitos se tornam simpáticos… mas decidi, porém, levar comigo tudo o que aprendi e conquistei na juventude: a capacidade de sonhar, a lealdade, a diversão, a liberdade, até mesmo a responsabilidade … e a inocência, quanto baste… Quanto ao espelho, tenho três opções: pisco-lhe conformadamente o olho, parto-o de vez ou rendo-me a uma Dermoestética… no fim de contas, a aparência é a única coisa que temos capacidade de mudar…