02 março 2010

Nem mesmo se forem galinhas...



Voltei!!!! Aliás, já tinha voltado há quarto de hora, antes de, inadvertidamente, ter apagado o post quase todo...tsss, tsss, como se fosse fácil reproduzir as balelas que acabara de escrever... Paciência! Começava mais ou menos assim: 20 de Fevereiro de 2010. David Fonseca no CCC de Caldas da Rainha... Aproveitando o “dia dos passarinhos” não comemorado na semana anterior, nada melhor do que um concerto do ex-Silence 4, apanhando o comboio da digressão de promoção do “Between Waves”, que parara também na agora revigorada cidade das artes, a escassos 25 kms daqui... Guess what? That was a job for super granny (and aunty)…. Tratada, deitada e confiada que estava a rebentinha, foi “ala”, que se fazia tarde!

Foi, com efeito, um concerto para ver aconchegado, de mãozita dada e miminhos qb - não descurando momentos mais enérgicos de saltos algo contidos e palmas compassadas - mas não entendo, apesar de tudo, David Fonseca enquanto um cantor de meninas... A fase “Silence 4” foi, de facto, uma fase algo pueril do David, por muito bem que tenha corrido o início e perdoem-me os mais saudosistas... O David cresceu, fez-se um homem, à custa da muito boa música em que se inspira e de muita dedicação - isso é evidente na sua tão bem construída carreira... Tem o “transtorno” de ser agradável à vista das tais meninas, mas não tem culpa, coitado!... Pode sempre deixar crescer a barba e andar corcunda e amarrotado, talvez ajude os mais incrédulos a acharem que, afinal, o gajo até é baril!... Seja como for o seu trabalho não é tão fácil de digerir como, à primeira vista, possa parecer... ainda que a melodiosidade que o tem determinado possa iludir que se trata de mais uma pop-pronta-a-tragar... Tem, porém, um “je-ne-sais-quoi” de peculiar... algo que nos prende os sentidos... e penso que tem a ver com a combinação letras/voz/construção musical/performance/pitada dos áureos 80’s... há um fio-de-conduta interessante que lhe confere a tal “marca própria” que tanto tenho falado nos últimos tempos... é isso, tem marca própria, tem sumo, mexe com as emoções ... sem ter de fazer música dissonante... e sem ter de cantar em português... bem sobre isto já lá chego...

Mais uma premissa em defesa do David – Ele (já) não é o melancólico macambúzio intelectualoide como alguns, erradamente, o terão apelidado... o David trabalha por ciclos temáticos (que não raras vezes andam associados aos ciclos de vida de todos nós), ora percorrendo terrenos músicais mais cinzentos e introspectivos de amores sofridos pela distância, ora pintando mundos coloridos de esperança em amores renovados, ora simplesmente soltando-se na sua já imensa experiência de composição e de palco para ver no que dá. Neste palco caldense demonstrou, em prelúdios de alguns temas, que, afinal , usa de um refinado humor a raiar o non-sense, e que dava um excelente stand-up comedian, sobretudo agora que já é bem reconhecido...

Penso que, se por um lado o Inglês lhe permitiu ser presença regular em eventos tais como o "South by Southwest", no Texas, considerado um dos maiores festivais de música do mundo, retirou-lhe, creio eu, a oportunidade de alguma vez se ter sagrado como grande revelação nacional, salvo nas incursões que tem feito pelo nacional-cancionetismo, onde destaco, por exemplo, o nome de António Variações. Seja como for, chegou e manteve-se incólume perante uma vasta e crescente legião de público – a meta final do artista que é franco consigo mesmo, já que ninguém cria algo sem a pretensão de um público, nem mesmo se forem galinhas...

Caso para dizer, David, porque não adoptas de vez o Português? Não queres? Tudo bem, és um artista feito e quase perfeito. Segue em frente, parabéns, e continua a espalhar emoções por esse mundo fora e a "fazer-nos acreditar"...

Obs: o video postado foi o primeiro integral que apanhei no YouTube, pedido emprestado ao user "ohdm"... ah, e parem (por momentos) o "insistente" leitor do Bruno Kalil, no caso de quererem "ouvir" o vídeo...

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