30 março 2010

Ironica Mente

A criação artística tem destes maravilho-sos e inexplicá-veis efeitos de perdurar além do próprio criador... Não que quem cria queira necessariamente perdurar além da sua própria existência... duvido... a não ser que a criação possa, de algum modo, possibilitar um porvir melhor... é a única pretensão, quanto a mim, admissível ao criador. A arte, por mais espontânea que seja, pressupõe a perenidade, quiça a intemporalidade... como se o criador fosse uma espécie de medium, cuja verdadeira arte é a de possibilitar a materialização de uma "realidade" espiritual.
E o que me leva a esta dissertação de algibeira? A sensação que me fica de cada vez que vejo uma banda veterana, como aconteceu com os ALPHAVILLE no Campo Pequeno, no passado dia 26.
O tempo só leva o que tem de levar; apetece-me comparar a vida a uma prova de estafetas. E o testemunho dos germânicos que apregoaram, ironicamente, "querer ser para sempre jovens" já foi passado a quem de direito. Com todo o mérito que lhes cabe. Eu daqui, dos anos dez do novo século, olho para trás, para a rebeldia musical dos oitenta, com toda a nostalgia e respeito que se impõem e penso: que bom que o tempo passa, porque só assim verdadeiramente se criam os alicerces da criação artística, enquanto perene e intemporal...
Larga a droga, Bruno. E vai-te deitar, que são horas.

Obs.: a foto é reles mas é "obra" do meu telemóvel... o vídeo (se assim posso chamar) optei por não colocar, pois não tive pachorra para filmar um tema inteiro... acho desperdício perder um minuto que seja de um momento (quiçá) único. Também por isso não registei (senão na retina e no peito) o nascimento da rebentinha...

1 comentário:

Anónimo disse...

“Do you really want to live forever?”
A obra passa a ser do público a partir do momento em que o criador a dá. A obra passa a ser do público a partir do momento em que este a aceita. Quando é que a obra passa a ser obra? Dostoiévski em relação a “Os irmãos Karamázov” diz que: “Estou perfeitamente de acordo que é uma coisa inútil, mas, já que foi escrita, que fique.”