16 fevereiro 2006

A montra virtual dos grandes calotes

Imagem: "Broken dreams", Nuno Reis
Parece que é desta! O Governo sucumbiu à tradicional técnica da exposição pública dos grandes e duradouros calotes, tencionando passar a servir-se não da vitrina de uma mercearia ou de um café de província, mas usando antes as Novas Tecnologias para tentar solucionar o problema dos contribuintes devedores crónicos, que tantos danos causam ao erário público, nomeadamente, metendo a mão, qual arrastão de Carcavelos, no bolso de cada um dos portugueses e, muito em particular, no meu. Assim, ou resolves-te a pagar, ou o teu nome e dívida passarão a figurar no site dos grandes caloteiros, e ficas queimado para todo o sempre! (Ou não!...)
Ora, esta pragmática medida é precedida por uma outra, burocrática, para não dizer, inutilmente dispendiosa: a do envio da missiva convidando o devedor a pagar voluntariamente, ou seja, a bem. Ora, como todos sabemos, esta forma de chantagem via postal, trata-se de mais um gasto de tempo e dinheiro da parte estatal, já que, obviamente, poucos ou nenhuns terão intenção, quanto mais forma de liquidar essa dívida. Servirá, antes, para tornar politicamente correcto o que, na realidade, não o é!
Já a publicação na Net do nome/dívida dos grandes “baldões” assemelha-se a uma espécie de cadastro criminal que, parece-me a mim, não só denegrirá (e muito bem!) o bom nome dos ditos cujos, como a mais pequena operação financeira que os mesmos intentem fazer, com o risco até de abalar a secular instituição do cravanço dos «cinco euros p’ró tabaco… pago-te assim que receber». «O tanas!», responderíamos, «não soubesse eu que deves 100 mil notas ao fisco! Ando eu a descontar p’ra chulos como tu? Desaparece!»
Obviamente que o impacto sentir-se-á ao nível das figuras públicas, e não tanto em relação ao comum dos mortais. Sim, porque será um luxo constar dessa lista da DGCI, pois será necessário possuir um valor em dívida acima dos 100 mil euros. Em relação aos anónimos (a maioria), o que fará a máquina fiscal? Bem, em relação aos primeiros, continuarão no anonimato, quanto à segunda, continuará a sortear potenciais pagadores para envios periódicos de missivas, digo eu… Se assim não fosse, parte considerável dos portugueses apodreceria na interminável lista negra electrónica do Estado. Já os outros, quem conseguir, abafa, quem não, requer o suave pagamento, protelando, assim (opa!), a compra daquela mansão, do tal descapotável e, se tiver de ser, adiando, para o próximo ano, aquele cruzeiro de luxo!
Vejamos, em primeiro lugar, se a medida (pendente de um qualquer parecer) avança, e, em segundo, quanto tempo levará até à página ficar em baixo… para manutenção!

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