26 outubro 2005

Por favor, uma maleita, ou qualquer coisa que sangre!

Imagem: "Spit or swallow", Vómito Negro
Pois, é verdade. Se antiga-
mente falávamos em maleitas seculares, as auto-
-estradas da informação diminuíram a distância de 100 anos para períodos anuais de catástrofes, epidemias ou pandemias.
Com efeito, com tantas cadeias de televisão, e enfim, toda a proliferação da comunicação multimédia, chegamos ao ponto de quase ter de inventar assuntos, “que sangrem”, para a ordem do dia.
Não quero descurar a gravidade de uma queda de um avião na Nigéria ou noutro qualquer local ou mais um atentado no Iraque ou uma rede de pedofilia desmontada, que são, de facto, assuntos da ordem do dia, ainda que seja discutível a forma esmiuçada e repetitiva com que as cadeias generalistas os abordam, gerando, gradualmente, banalização e indiferença por parte do telespectador.
Mas o que realmente não concebo é que se perca tempo a especular sobre “estrelas” futebolísticas que se deixam cair em teias mais cerradas, quando o único crime que poderiam estar a cometer seria, eventualmente, o facto de se fazerem pagar tão caro. Mas este será, seguramente, um argumento sem força uma vez que, por decreto ou não, é uma questão senão institucional, pelo menos irreversivelmente instituída no mundo-rei do futebol…
Haverão situações em que os mass media terão um papel fundamental; por vezes pergunto-me se a política não tivesse a janela ampla dos meios de comunicação, como poderia ver e ser vista, falar e ser ouvida por um público que, não querendo engolir o peixe que lhe vendem, o mais que poderá fazer é desligar a TV ou a rádio, mudar de canal ou de sintonia, fechar o jornal ou mudar de página, sendo impossível, a um político (para seu próprio bem!), ser-se vaiado ou “beijocado”, deste modo!
Por outro lado, a TV, nomeadamente, tem quase que uma função de pedestal no qual, quem tem assento é automaticamente vedetizado, com maior ou menor duração; mais uma questão incontornável seja para simpatizantes ou adversários da pretensa vedeta. Também não é novidade para ninguém. Porém, importa que o não banalizemos ao ponto de perder a faculdade humana de discernir o que é essencial do que é acessório. O que é essencial nem sempre é o tema de abertura dos jornais televisivos, tal como o acessório nem sempre é o assunto que fecha um bloco noticioso. Devemos ser criteriosos, tal como os responsáveis de informação e programação.
Informação e programação temática e diferenciada sim, mas para que possamos optar!
E cada qual, poderá, no dia-a-dia - ao invés de comentar o penalty mal assinalado da noite anterior, que já teve ou terá destaque e desenvolvimento suficientes -, preocupar-se antes com questões que nos tocam como a qualidade dos serviços de saúde, a pobreza generalizada, a seca, o degelo, a desertificação, a poluição, o envelhecimento, a perda de tradições e de referências históricas. Sem apontar dedos, mas soluções. Quem sabe alguma televisão, algum dia, não levará a ideia até algum político mais influente?

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