27 fevereiro 2007

Porque a música também é uma forma de arte!

Imagem: "artes (antes) do palco", Luís Garção Nunes
O interven-
cionismo, a nível musical, é sabido agitar e, não raras vezes, abalar muitas consciências, e isso é bom, quando é feito pela positiva, de forma construtiva e honesta e sem mero aproveitamento próprio. Uma utopia, haverá quem diga, mas terá de ser mais do que isso?
Sou insuspeito, ao falar desta forma, já que também sou músico, actualmente “de prateleira”, embora em vésperas de uma boa sacudidela de pó (espero eu!)…
Por exemplo, criticar a corrupção política (ou de outra ordem qualquer) através das canções/performances musicais, será pura hipocrisia se, enquanto músicos, alinharmos numa onda pseudo-intervencionista de auto-promoção. Nesse caso, estaremos, também nós, a ser corruptos musicais, vendendo discos e espectáculos em troca de valores em que não acreditamos, mas que furam com tudo, protegidos que estamos pela capa da fama. E é aí que o pseudo-músico de intervenção se confunde com o pseudo-músico popular brejeiro, dito “pimba”, que não presta louvor à cultura popular, mas antes ao dinheiro/fama que consegue com essa máscara (daqui excluo os “pimbas” autênticos, que receio serem poucos…).
Poderá parecer paradoxal, mas não havendo ofensas pessoais e caluniadoras, confesso que este pseudo-intervencionismo não me parece preocupante, sempre é uma forma de pôr o dedo na ferida...
Afinal, que efeitos poderá a dita música de intervenção ter para o público?
Deverão ser incontáveis as vezes que cantei o “Bullet in the head” dos Rage Against the Machine ou o “Pride (In the name of love)” dos U2 ou ainda o “Five to one” dos Doors, entre outros dos mais emblemáticos temas internacionais de intervenção. As vezes que os cantei, fosse na casa de banho, fosse debruçado no balcão de um bar, integrando alguma das minhas ex-bandas ou assistindo a algum concerto, nunca tomei por bandeira os valores políticos ou sociais supostamente presentes nas letras. Como, aliás, poucos (ou nenhuns) dos que me rodeavam ou rodeiam o terão feito ou ainda farão.
Sou insuspeito, mais uma vez, ao dizer isto, já que também sou letrista, e também escrevo sobre os dissabores da nossa sociedade, embora não só.
Isto para dizer que não serão a música, a letra ou a canção integral, por si só, desencadeadoras de reacções em cadeia de ordem politica, social, ecologista ou de pura violência ou pura apatia. Essa vontade tem de estar assumidamente presente em quem as ouve, mais do que em quem as compõe/interpreta.
Tal como uma tela, a composição de canções tem, hoje em dia (se é que não foi sempre assim), uma preocupação estética subjacente, sendo que o ritmo, a melodia, a “cor”, enfim, a forma das palavras interessam tanto ou mais que o seu sentido ou conteúdo, que será plural/subjectivo, como em qualquer outra obra de arte. Um músico é, com efeito, um artista (mesmo sem plumas!) e, de certo modo, um actor que veste a pele do tema que canta ou da eventual filosofia adoptada pela banda ou projecto, sem, contudo, necessariamente acreditar em tudo o que diz/faz ou dizer/fazer tudo em que acredita… tal como “o poeta é um fingidor”, para Fernando Pessoa; “the great pretender”, para os Queen, e por aí fora…
Corridos 20 anos sobre a morte de Zeca Afonso, presto aqui homenagem a um ícone da honesta música de intervenção nacional, facto que, conjugado com a sua primorosa habilidade criativa e interpretativa, lhe proporcionou conseguir alguns fiéis seguidores e muitos respeitadores da sua carreira…

2 comentários:

Anónimo disse...

A propósito de música, deixei um comentário no post: "Baú de pequenas coisas - II"

Beijinhos

spring disse...

olá

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parabéns pelo teu blogue

paula e rui lima